quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Dica de Leitura: Ladrão de Cadáveres

Trata-se do título do último romance da escritora Patrícia Melo, editado em meados de 2010. A paulista Patrícia (Assis-1962) é também roteirista e dramaturga, já tendo escrito sete outros romances, dentre os quais O matador e Inferno, este vencedor do prêmio literário Jabuti em 2001. Suas obras estão traduzidas na Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Espanha e outros países.
Considerada uma escritora que sempre se dedicou a estudar a mente de criminosos violentos, manteve ainda boas relações literárias com Rubem Fonseca, nas quais ambos adaptaram obras um do outro para o cinema.
Confesso que Ladrão de Cadáveres foi minha primeira experiência com Patrícia Melo. Ao ler a entrevista em que ela abordava as razões e inspirações desse seu último livro, acabei por ir ao encalço de sua leitura.
Na referida matéria, a escritora expõe seus pensamentos sobre questões complexas como os males praticados pelo homem ao longo de sua existência. Diz não acreditar que a moralidade, o senso de justiça e a bondade sejam características naturais do ser humano, porém construções da civilização.
“Na minha opinião (acrescenta), o homem é um animal cruel e feroz. Um ser voltado para a destruição. A civilização é uma coleira, uma gaiola para nossa selvageria. De vez em quando, escapamos da coleira e aí...”
Por certo, há reflexões filosóficas em sentido contrário, ou seja, a civilização, com todos os seus consectários de poder, competitividade e ascensão econômico-social, é que produziria as barbaridades humanas que por todos os lados sempre aparecem.
Polêmicas à parte, Ladrão de Cadáveres é daqueles romances relativamente curtos (204 páginas) em que do começo ao fim é difícil despregar da leitura. Ao menos, comigo foi o que se deu.
Ainda que a autora prime, nos termos dos estudos que sobre ela se realizam, pela análise da violência, desta feita pode-se dizer que Ladrão de Cadáveres tem seu enredo conduzido pelas perdas e acasos que, via de regra, influenciam nossa trajetória.
Eis que um grave fato acaba por gerar autêntica reviravolta na vida do protagonista que, no início de sua vida profissional, era apenas o bem-sucedido gerente de marketing numa grande loja em São Paulo.
Em razão do fato, tal protagonista, que narra a história em primeira pessoa, se vê obrigado a mudar-se para os arredores de Corumbá-MS, em busca do auxílio de um parente. Então, começa seu louco percurso.
Para tanto, basta que ele, durante uma pescaria, encontre um corpo de um rico jovem boiando sobre um rio, quando este jovem perde o controle de seu monomotor em sobrevoo do Pantanal.
As consequências e entrelaçamentos de vidas que se cruzam por causa de um cadáver desaparecido é que dão o imenso fôlego à narrativa, inclusive com bons passeios pelo poder que o tráfico de drogas impõe em nossas fronteiras e no mundo.
O enredo nos propicia considerações sobre moral, corrupção e circunstâncias relativas a planos maquiavélicos de que não se consegue mais fugir, uma vez iniciado o caminho movido a ambição e oportunismo.
No decorrer e pela própria fala do personagem narrador, surgem algumas reflexões da escritora sobre as diversas gradações das atitudes ruins que o homem é capaz de praticar em nome de seus projetos. Tudo com períodos o mais enxutos,claros e objetivos.

Por: Alberto Calixto Mattar Filho

Obs: Como já frisei aqui mesmo, o Profº Alberto é de sobra o maior articulista de Passos, desta forma e também pelo respeito que tenho pelo mesmo, uso das suas dicas para meus queridos alunos. Profº. Junão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário