sábado, 17 de julho de 2010

A beleza poética do mar de Jorge Amado


Alberto Calixto Mattar Filho
Quando do não tão distante falecimento da escritora Zélia Gattai, senti vontade de resgatar o desejo de ler Jorge Amado. Ao assistir às reportagens sobre a vida de Zélia, nas quais se revelava a longa trajetória de amor e companheirismo entre ela e o marido Jorge, meu desejo se fortaleceu.
O resgate se deu em uma de suas obras mais conhecidas e lidas, Mar Morto. Embora tenha sido daqueles romances quase que obrigatórios dos idos colegiais, eu nunca o havia experimentado.
Seu enredo é simples, porém belo. Belo porque retrata com imensa força lírica a trajetória dos homens do mar. Homens desprovidos de bens materiais e de formação educacional ou acadêmica, mas homens que sempre se revelaram de uma força e coragem incomuns.
Ao retratar o profundo amor entre o marinheiro Guma e a moça Lívia, ao lado de tantas histórias paralelas das outras personagens, Jorge Amado quis transmitir exatamente a força daqueles que nasceram perante o mar e dele extraíram sua subsistência. Melhor, sua sobrevivência.
Ainda que para atingir seus objetivos, tenha usado de todas as formas de fantasias, não se pode negar que os marinheiros, em especial os pescadores, são pessoas que enfrentam os riscos de acidentes e de morte o tempo todo. Por isso, o nome da obra, Mar Morto. Trata-se de um romance em cujo núcleo gravitam espécies de crônicas em forma de capítulos, nos quais o escritor destila toda a imaginação de que é capaz. Ora é a história de um marinheiro, ora a de outro. Todas interligadas e repletas de atos de heroísmo, de sucessos e insucessos, de aventuras festivas e libidinosas, sempre com a enorme paisagem marítima como pano de fundo. Em vários momentos, há fartas descrições das grandes tempestades que, via de regra, lá vinham a surpreender aqueles que se lançavam ao trabalho no oceano.
Não faltam detalhes acerca da pobreza, dos valores, hábitos, crenças e da dor que sempre cercava as famílias dos que partiam para as águas sem a garantia da volta. Mas, como dizia a canção de fundo, na voz dos freqüentadores do cais e sob os eflúvios da velha e boa cachaça: “ . . . é doce morrer no mar. . .”
Há alguns anos, em Fortaleza(CE), ao final de uma bela tarde, não me esqueço de que fui bater um papo com velhos pescadores na orla marítima. Nem é preciso dizer que ouvi casos os mais diversos sobre os riscos que já tinham enfrentado no oceano.
Por mais que exageros houvesse (e quem não conhece os relatos de pescador?), não deixei de admirá-los pela inegável coragem e pela absoluta entrega ao ofício que exerciam. Pois não vejo como trabalhar no mar sem amá-lo. O mar, esta força inigualável da natureza.
Durante a estada na capital cearense, num dos passeios típicos em jangada por águas abertas, ouvi do jangadeiro uma frase célebre, após conversar com ele: “...Meu amigo, não tivemos escola, mas nosso grande professor é o mar.” Uma frase simples, mas de imenso conteúdo. De fato, ao observar aquele marinheiro das jangadas, já vislumbrava nele coragem e determinação, o que Jorge nos repassa tão bem nessa obra.
De toda a longa lista de romances do mestre baiano, Mar Morto é um dos mais populares. Traduzido para vários idiomas, é considerado aquilo que se costuma chamar de poema em prosa ou prosa poética, tamanha a força dos sentimentos de suas personagens. Tamanho o lirismo de sua narrativa.
A leitura é fácil. E é obra tanto para adolescentes, que muito necessitam de estímulos ao ato de ler, quanto para adultos. A beleza, em não poucas ocasiões, vive sob a mais absoluta simplicidade.

Alberto Calixto Mattar Filho é servidor da Justiça do trabalho e de longe o maior articulista de Passos ... espero ter a honra de brindar meus alunos e seguidores com muitos dos seus belíssimos textos ... Prof. Junão

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